segunda-feira, setembro 05, 2005

Luana

Estes dois dias têm passado muito devagar. Devagar demais para o meu gosto. Quando vim para este prédio, a minha ideia era fazer novos amigos, não me meter em confusões e recomeçar a minha vida tentando construir algo de bom, desejando fazer as coisas de forma totalmente diferente. A minha primeira noite fora um desastre. Ir ao bar e meter-me com um homem desconhecido... descobrir que esse homem é afinal meu vizinho... ouvir murmurar que alguém lá estava e me viu... tudo isto fez com que me enfiasse em casa e não saísse, com medo de encarar as pessoas. Medo e vergonha.
Não me arrependo de ter feito sexo com aquele homem. Apenas de não ter sabido ser discreta, de não ter procurado saber quem ele era antes de me atirar de cabeça. Aquelas horas foram boas; ele sabe o que faz e sabe o que quer, e eu gosto de um homem assim, que me domine e se deixe dominar com intensidade. Disse-me que nunca ninguém lhe tinha feito um ... tão bom. Eu acredito nele. Não é o primeiro a dizer-mo. No entanto, já no meu quarto, não pude deixar de me sentir usada, um pedaço de carne sem sentimentos que não se pode respeitar porque não se respeita a si próprio. Mas eu sou mesmo assim... procuro sempre carinho, mas acabo a pedir violência e a sentir-me como uma prostituta reles. E sei que nunca ninguém me vai amar porque nenhum homem gosta de uma mulher como eu. No fundo, ninguém me conhece, ninguém sabe que eu só quero ser feliz e amada, e a culpa é minha porque passo uma imagem diferente. Tenho a certeza que o meu vizinho – nem lhe perguntei o nome! – vai pensar que eu sou ISSO e que as outras pessoas do prédio não vão querer falar comigo. E quem fez com que tudo isto começasse vai estar feliz como sempre, e nem sequer vai pensar na pessoa a quem destruiu.

Um ruído libertou-me dos meus pensamentos. O elevador parou no 3º andar e uma mulher entrou. Era bonita mas parecia muito cansada e triste. Reparei no volume do bebé no seu ventre. Ela acariciou a barriga e eu senti como que uma pontada no peito, uma ferida a sangrar eternamente.
- Bom dia – disse ela.
- Olá, bom dia.
Depois via-a olhar-me atentamente antes de perguntar:
- É a nossa nova vizinha, não é verdade?
- Sim, aluguei o 5º trás.
- E está a gostar?
- Ainda me estou a habituar, mas posso dizer que sim. Ainda não conheço ninguém...
- Ai não?
Tentei olhá-la nos olhos e sorrir.
- Bem, agora estou a conhecê-la a si. O meu nome é Luana, e o seu?
- Rita. Moro no 3º Esqº.
O elevador parou. Nós saímos.
- Gostei de a conhecer, Rita, e desejo felicidades para si e para o bebé que vem a caminho. Está muito bonita.
Ela sorriu mas pareceu-me ter ficado ainda mais triste.
- Obrigada, Luana. Olhe, se quiser, apareça para tomarmos um chá e nos conhecermos melhor.
- Ok. Eu apareço.
Ela saíu e eu fiquei entretida com a caixa do correio. Nenhuma carta. Estava a salvo. Cumprimentei a Dª Margarida e saí para o sol e o vento, em direcção à praia. O mar dir-me-ia o que fazer, e as suas palavras seriam anotadas no caderno que levava debaixo do braço.

3 comentários:

Drifter disse...

Hmm... Ouvi uns rumores sobre qualquer coisa da nova vizinha do 5º andar, no entanto, não sinto necessidade de me afastar de ninguém... Só um pormenor: não cuples exclusivamente o "outro". O sexo é um acto que se pratica a dois...

Beijo,
Mário (10º Esquerdo)

Heavenlight disse...

Bem... Cecalhar não fui mt explícita... o "outro" é uma pessoa do passado da Luana a quem ela culpa pela decadência moral...não se trata da pessoa com quem pratica sexo, pois essa tem um papel importante.

Drifter disse...

Ok! Peço desculpa por ter interpretado mal! :)