sábado, junho 10, 2006

Adeus

(Porque ninguém me tem visto no prédio)

Os lençois do berço continuam desfeitos, tal e qual como ficaram quando pegeuei nele ao colo naquela manhã, os brinquedos continuam espalhados no chão, mas ele não está lá a morde-los...
A Rita diz-me que tenho que chorá-lo, tenho que ficar com as recordações e viver... Ela chorou, muito tempo, agarrou-se a mim, apertou-me e com o olhar suplicou-me que chorasse com ela, não consegui e não a deixei tocar em nada do que era dele.
Ela esgota a dor, quando entra, no quarto, não mexe em nada, diz ela, mas eu sei que quando a saudade aperta, ela senta-se junto do berço e chora, chora muito, mas sufoca o som, porque não quer que eu ouça.

Hoje dei a mão à Rita e levei-a até à porta do quarto dele, dei um passo e entrei, apanhei os brinquedos e pus dentro do "caixote da tralha" (como eu lhe chamo), a Rita tirou os lençois do berço, dobrou-os e pousou-os na arca, dobramos a roupa e pusemo-la dispostas em cima do colchão despido.
Fui à garagem e trouxe caixotes. Colocamos tudo lá dentro e selamos com cola adesiva.
O quarto ficou nu... a Rita saiu, depois de me ter dado um beijo, fiquei eu e o quarto vazio. Caí no chão, de joelhos e chorei, chorei mais do que alguma vez tinha chorado na vida.
Hoje disse adeus ao meu filho.
Agarrei-me a um dos últimos fatinhos dele, o cheiro dele contiunua lá e eu quero senti-lo para sempre... este vou guarda-lo na minha gaveta...
shiuuu! ... não... pareceu-me ouvi-lo palrrar...

João

1 comentário:

C. F. disse...

Tudo o que senti foi um aperto no coração e tentei com todo o esforço, conter as lágrimas que pediam para ser soltas e gritar...


Lamento muito e coragem, é tudo o que me ocorre dizer...pois não imagino tamanha dor...


Carla R.