sábado, março 11, 2006

O meu Bebé! (3º dto)

"- Olá meu filho!" - custou-me decidir quais as primeiras palavras que lhe diria, fiquei perdida com aqule corpo frágil nos meus braços.
Para o João foi fácil, disse logo: " Eu sou o teu pai!"
A minha criança nasceu. ainda me parece tudo tão irreal! Olhei para os olhos dele e vi a alma que mais amo. Ouvi o choro mais lindo da minha vida e senti uma felicidade arrebatadora.
Não ri o meu filho, o mundo é - lhe estranho. Chora e só acalma quando o aconhego no meu colo ou quando lhe dou de mamar...
Foi lindo ver o João com o nosso filho ao colo. Adorei aquele sorriso aparvalhado de pai babado. A Marisa, olhou para mim e num olhar de cumplicidade feminina concordou comigo: os homens ficam patetas quando são pais.
Eu e o João ficamos longos minutos a olhar para a cara do nosso filho, no fim, lá decidimos o nome que lhe vamos dar: Luís.

Tem dois dias o Luís e já é vedeta. Recebo telefonemas a perguntar por ele, os pais do João já vieram ver o neto... A Luana, veio espreitar... eu estava a dormir, não a recebi... Mas oportunidades não faltarão...
A Marisa tem sido extremamente sensivel e dedicada comigo, está sempre presente, ajudu-me a dar banho ao bebé, eu estava nervosa, tinha medo que ele me escorregasse... O João só dizia: "Cuidado com a cabeça!" e eu ria-me com um nervoso miudinho...

Agora vou aconhegar e ver esta nova vida a crescer... e vou gozar este meu novo papel: sou mãe!

domingo, março 05, 2006

Começar de novo - Bruno

Após uma longa procura, lá encontrei um andar perto do trabalho.
Foi-me dito que esta zona era pacata, sem grandes algazarras e com um bom ambiente por parte das pessoas que aqui vivem. De facto, é uma zona pacata, não se ouve ou vê vivalma. Estou à porta do prédio, olho para cima e percebo agora que se trata de um edifício recentemente renovado. Bato à porta do prédio e a porteira vem abrir.
- Boa tarde, chamo-me Bruno. Aluguei aqui um andar. É o 5º A.
- Boa tarde, como está? Entre que eu indico-lhe o andar.
Peguei nas malas e lá fomos. A porteira parecia-me ser muito simpática. Começou por me contar que tinham terminado de renovar o prédio há pouco tempo e que alguns dos seus inquilinos pretendiam também fazer algumas alterações nos seus respectivos apartamentos.
- Aqui está; 5º A. Esta é a sua chave, alguma coisa é só pedir.
- Muito obrigado, e um resto de uma boa tarde, para si.
Agarrei a chave, abri a porta e entrei.
Eram já seis da tarde e começava a ficar com fome. Apenas tinha comido algo, antes de sair da casa dos meus padrinhos, os quais aproveitei para visitar e dar as boas novas.
- Vou pedir uma Pizza.
Daí a meia hora tocam à porta. Abri.
- Boa tarde, pediram uma Pizza.
- Sim, quanto é?
- São vinte e dois euros e cinquenta cêntimos.
- Aqui tem, obrigado.
Comi, vi um pouco de televisão e depois fui-me deitar. Descansar da viagem.
Mas, a meio da noite enquanto tentava dormir, e dando voltas e mais voltas na cama, ouço alguém a chorar no corredor. Saio da cama, visto-me e vou ver o que se passa; ao abrir a porta de casa vejo uma mulher, muito bem vestida sentada em frente à porta do 5º C.
- Olá, precisa de ajuda?
- Não, eu estou bem.
- Está a chorar, porquê? Não consegue entrar em casa, é isso. Eu ajudo-a.
- Deixa-me em paz, eu já disse que estou bem, será que és surdo?
- Como se chama? Eu sou o Bruno, sou novo aqui no prédio.
- Chamo-me Luana.
- Luana, que lindo nome, tem a certeza que não quer ajuda?

sábado, março 04, 2006

Contracções (3º DTO)

- Estou ansiosa por lhe ver a cara, por lhe tocar os dedos das mãos, para o cheirar e envolver nos meus braços...
- E estás muito nervosa?
- Não, estou ansiosa...! Já estou a ultimar os preparativos para o nascimento. Falei com a Marisa, que é parteira, para me ajudar na altura do nascimento, assim o João fica mais descansado. É preocupado, apesar de ser uma criança grande.
Mas este peso da barriga arrasa-me, andar com o sebastião pela trela é uma aventura, mas ele tem cuidadinho comigo e passa a vida a lamber-me a cara, e quando estamos deitados no chão , lá em casa, poe o focinho em cima da minha barriga e parece escutar algo que eu não escuto... é lindo...!
- E hoje como te sentes?
- Hum... estou ligeiramente indisposta...um mal-estar que não sei explicar muito bem...
- Chama o João!
- ai... vou telefonar á Marisa. Está mais perto...
...

- Tou, Marisa? preciso de si...

quinta-feira, março 02, 2006

Luana

Hoje estou mais triste do que o habitual. A minha casa é um mar de silêncio onde me sinto naufragar, e mesmo as cores de esperança com que a redecorei parecem não surtir qualquer efeito sobre o meu estado de espírito.
O meu vizinho - o meu amigo, Pedro - ausentou-se. Negócios no estrangeiro durante uns meses, ou uma desculpa para se refugiar no seu mundo. É engraçado, o que a vida faz às pessoas, ou o que as pessoas fazem à sua vida. Eu encontrei no Pedro uma pessoa boa, compreensiva, não só um vizinho mas um amigo; não só um amigo mas alguém que eu achei que poderia salvar-me de mim própria, que eu poderia amar. E achei que ele sentia o mesmo em relação a mim. Passeámos juntos pelo parque, jantámos juntos, conversámos sobre tantas coisas que eu achei que podia confiar plenamente nele e que ele em troca me abria o mais profundo da sua alma. Quando ele se foi embora, deixou-me uma nota por debaixo da porta, e eu li-a e reli-a vezes sem conta, até apagar o perfume dele do papel, até pegar esse perfume aos meus lábios.

Luana,
Vou ausentar-me do país em negócios. Estamos a estudar um projecto complicado
e por isso não sei quanto tempo estarei longe de ti.
Escrever-te-ei assim que chegue e, se possível, todos os dias.
Já tenho saudades tuas, de estar contigo, da energia viva que brota de ti.
Odeio despedidas, e por isso não te disse nada pessoalmente.
Terei tempo para avaliar-me a mim próprio, para avaliar os meus sentimentos,
para reflectir. Não me esqueças e por favor não desanimes.
Lembra-te da jornada de alegria de viver que iniciámos juntos. Tem força por ti,
ou senão para ma dares quando eu voltar. Olha para a lua!
Pedro
Passaram 2 meses e nem uma carta, nem um telefonema, nem um email. Nada. Apercebi-me do meu erro ao pensar que conhecia o Pedro ao tentar localizá-lo através da empresa e descobrir que nem o nome eu sabia. Não podia escrever-lhe, mas pensava nele todos os dias, a todas as horas. As saudades apertaram o meu peito até eu já não conseguir conter a angústia; procurei distrair-me com novos projectos, mas o olhar dele estava em cada local, nas páginas dos livros, no meu pensamento, gravado a ferro na minha alma.
Anteontem, fui passear e entrei num café bastante longe de casa, num bairro que não conhecia, de casas luxuosas de aspecto imponente. Pedi um chocolate quente e sentei-me junto à janela. Atrás de mim, duas mulheres elegantemente vestidas falavam e riam, e embora eu não estivesse a tomar atenção à conversa, não pude deixar de as escutar:
- Então e o teu ex-marido, mudou de vida, foi para um prédio simples e apertado... não sabes nada dele?
- Por amor de Deus, Nina, nem me fales. O Pedro veio ter comigo há duas semanas, canalha! Disse que tinha estado no estrangeiro a fazer uma porcaria qualquer e que tinha falhado o projecto. Disse-me que precisava de mim, implorou-me para que eu voltasse, que uma fulaninha qualquer que mora lá naquele cubículo para onde ele fugiu o tinha ensinado que existem segundas oportunidades. Enfim, um rol de mentiras e disparates. Mandei-o pelo mesmo caminho.
- Sim, foi o melhor que fizeste. Não queiras cair na asneira de pensar que ele se modificou e sofreres tudo outra vez. À segunda só cai quem quer.
- E eu ia pensar isso, Nina? Vi-o há três dias... fez-me impressão, coitadinho. Barba por fazer, camisa rota, bêbedo, completamente bêbedo. Expulso de um casino, como um cão. Ficou caído na estrada, e se chovia!. Arrastou-se até à esquina e agarrou-se a uma rameira, mas olha que nem as putas o querem, porque a fulana deu-lhe um estalo e mandou-o embora. E depois...
Não ouvi mais. Saí dali a correr; as lágrimas distorciam-me a visão. Ele mentira-me! Ele tinha falhado e precisava de mim... e eu não o conseguia encontrar. Ele estava perto, num mundo que eu não compreendia, mas perto, e eu amava-o - tive então a certeza de que o amava -, mas ao mesmo tempo senti-me traída - ele fora ter com a ex-mulher; eu fui uma ajuda com a minha "energia de vida", nada mais do que isso.
Nessa noite, vesti-me a rigor e fui para aquela zona. Perguntei por um casino e indicaram-me um, não muito longe dali. Um pouco mais à frente, prostitutas de rua exibiam os seus corpos e tentavam angariar clientes.
Entrei no casino. Procurei com o olhar da alma, desesperada, mas nem sinal do Pedro. Fiquei ali algumas horas, à espera, sempre à espera. A certa altura, vi um outro bêbedo ser expulso e vi nele a miséria em que caíra o meu amigo. E então chorei. De madrugada, saí do casino e olhei as raparigas à borda da estrada. Talvez ele aparecesse. Fiquei ali. A certa altura, um Mercedes CL65 AMG parou ao pé de mim. O vidro lateral abriu-se e um homem bem vestido, de cabeto negro azeviche e olhos penetrantes, olhou para mim.
- Quanto é?
"...implorou-me para que eu voltasse, que uma fulaninha qualquer que mora lá naquele cubículo para onde ele fugiu o tinha ensinado que existem segundas oportunidades...", "...agarrou-se a uma rameira, mas olha que nem as putas o querem..." "eu fui uma ajuda com a minha "energia de vida", nada mais do que isso"
- Então, não tenho a noite toda. Quanto é?
- Quanto achas que eu valho? - perguntei, entrando no carro.
Anteontem imaginei que estava com o Pedro. Ontem fiz o mesmo. Ignorei o homem que respirava para cima de mim com hálito a Baileys e me bateu, e senti a dor com a mesma intensidade com que sentira a necessidade de guardar qualquer contacto físico com o Pedro para quando tivesse a certeza que ele me amava. Hoje vi a marca arroxeada no rosto, junto ao queixo, e chorei de raiva e de ódio, por ele e por mim própria. "Porque não me vieste salvar??"
Saí do elevador devagar, tentando conter as lágrimas. Era o terceiro dia que voltava ao casino e à esquina. O terceiro dia em que iria vender o meu corpo para me lembrar que eu não tenho o direito de amar.
- O que tem, Luana? O que é que aconteceu?
- Margarida... Isto passa. Não é nada.
- Mas está a chorar. Alguém lhe fez mal?
- Sim... fui eu...
A Margarida olhou-me com ar maternal, abraçou-me e levou-me para a sua casa. Indicou-me o banco da cozinha, colocou uma chávena de chá de menta à minha frente e pegou-me na mão.
- Conte-me.