segunda-feira, março 31, 2008

BEATRIZ E O CÃO

-É seu este gato?! - perguntei quando a porta se abriu a uma cara ensonada, de cabelo desgrenhado.
- Beatriz!!!! Que aconteceu? - parecia preocupado
- Deve ter caido da varanda.. ou saltado... sei lá - respondi entregando o gato que pelos vistos era uma gata- Tenho-a visto a desafiar o meu cão, do parapeito da varanda, que costuma ladrar-lhe do pátio. Há pouco ouvi-o, mais furioso do que nunca, e fui ver o que se passava. A sua gata estava a um canto, escondica entre dois vasos, toda eriçada a bufar enquanto o cão a tentava abocanhar.
- Coitadinha da minha menina!... Que grosseria da minha parte... Toma um café?
- Até tomo, obrigada - disse eu enquanto entrava a um sinal do meu vizinho. O hall tal como a sala estavam completamente vazios, sem um unico móvel. Na cozinha havia, apenas, dois bancos altos encostados a um balcão.
- Que cabeça a minha!... não trouxe a máquina de café. Pode ser chá?
- Sim, claro

sexta-feira, março 28, 2008

Acácio Martins - 5º Esquerdo

O meu nome é Acácio Martins. Tenho 35 anos e sou funcionário bancário. Estou separado e sou pai de uma filha, na realidade não sou o pai biológico, casei com a Albertina já ela estava grávida e assumi a criança como se fosse minha. A Lurdinhas já tem 10 anos é uma menina muito bonita e inteligente e não sabe que eu não sou o pai dela. Olha para mim e chama por mim como se eu fosse o seu verdadeiro pai e de facto até me sinto como tal. Fui em quem lhe mudou as primeiras fraldas lhe amparou as quedas e lhe secou as lágrimas; fui em quem lhe deu a mão antes da chegada do sono contando vezes sem fim as histórias dos ursinhos e da branca de neve. A Albertina teve uma depressão pós parto e não conseguiu cuidar da Lurdinhas. Começámos a discutir, a Albertina saiu de casa nunca mais voltou. Não sei nada da Albertina há 9 anos. Não sei se é viva, se é morta. A Albertina não tem família além de um pai esquizofrénico com um historial violento que está internado no Hospital Miguel Bombarda há 20 anos. Não sei onde poderá estar e confesso que também não me interessa mais saber do seu paradeiro. Vivo no 5º Esquerdo.

segunda-feira, março 17, 2008

MÁRIO VENTURA

Sou novo no prédio. Acabo de me mudar para o 1º esq. com vista para o pátio das taseiras.
Há uns tempos que havia ouvido falar deste prédio. Fui colega do João. Trabalhávamos juntos no hospital. Éramos amigos. Vivi com ele as suas inseguranças, a felicidade que a gravidez da Rita lhe trouxe,a tristeza da morte do filho e a decisão de abalar para Paris, aceitando a proposta de estagiar num Hospital Pediátrico.Soube que, entretanto, a Rita foi viver para casa dos pais.
Estou separado. A minha mulher, médica como eu, estava casada com o emprego. Havia dias em que nos víamos, apenas de passagem, no hospital.Almoçar ou jantar juntos? De vez em quando na cantina do hospital. Já não aguentava aquela vida... Peguei na Beatiz, a minha gata - a única femea a que algum dia fui fiel- meti algumas roupas na mochila e eis-nos aqui neste primeiro andar.Por enquanto não estou interessado em grandes aventuras por isso este ambiente calmo serve-me que nem uma luva. Bem...a calmia é quebrada pelo ladrar furioso do cão do pátio quando se vê desafiado pela Beatriz a espreguiçar-se no peitoril da varanda. Se ele a apanhasse...

Mário Ventura

quarta-feira, março 12, 2008

DE VOLTA PARA A RECONSTRUÇÃO

Cá estou eu de volta com o meu curso quase terminado. O tempo passou depressa ( tão depressa ou tão lentamente ) que vim encontrar o prédio quase em ruínas. Nem sei por onde começar... A explosão do último andar e o incêndio que se lhe seguiu deixou o prédio quase inabitável. Muitos foram os inquilinos a deixar as suas casas, uns estão a viver em casa de familiares e amigos outros foram-se embora de vez. Ainda não tive tempo de me inteirar, verdadeiramente, da situação. É tempo de reconstrução, de ver o que se pode aproveitar, de limpar, de tornar o prédio tão acolhedor como já foi.
Depois da reconstrução passaremos a vender ou a alugar os apartamentos, à medida que estiverem em condições de serem habitados. Voltei para a portaria, onde me podem encontrar a desempenhar, também, o papel de administradora. Aí me podem contactar ou deixar os recados na minha caixa do correio (mar.mar@sapo.pt)

Margarida