quinta-feira, novembro 02, 2006

As mudanças...

Estas mudanças estão a dar cabo de mim... Parece que não têm fim... Só de imaginar que tenho o aquário para trazer para o 9 andar... Só espero que os vizinhos não se importem com o barulho visto ter de o levar pelas escadas pois não cabe no elevador. Quando vinha a chegar da rua vi que a porteira D. Margarida falava com uma senhora, talvez uma vizinha, e quando disse olá não obtive resposta. Penso que não me ouviram de tão absorvidas que estavam na conversa... E não me pareceu nada uma conversa alegre. Agora vou preparar o jantar para o Miguel que deve vir muito cansado. Estes dias na empresa não tem sido fáceis. Ainda mais porque um ex funcionário levantou rumores que podem dar cabo da carreira dele. Mas porque é que existem pessoas assim??
Carolina

sábado, outubro 14, 2006

Conversa

E a casa está mais vazia do que nunca...
No prédio já não me cruzo com ninguém, pareço um fantasma num prédio abandonado à sorte dos que ainda respiram.
Há novos inquilinos. Não tenho opinião sobre eles, não me lembro da cara deles...
E estou a falar consigo D.Margarida, porque é a única a quem ainda veja, a quem ainda dirijo uma palavra por força da presença de todos os dias...
Não olhe para mim assim, eu sei que não é por mal, mas agora volteia ser só eu... Eu a passear um cão pela trela todos os dias em vez de um carrinho...
Já não tenho lágrimas, agora sinto que não sinto. Sou imune á dor.
- E o Dr.João, como está?
Longe... Tão longe como eu. Perdido. Insano. É médico a tempo inteiro agora... Já nem sei se aguento viver aqui com ele, não sei se ele me aguenta.
Sabe o que é sentir o coração a sair boca fora?
-Imagino o que seja. Sei o que é...
O meu já saltou... O João não o quis apanhar... acho que não conseguiu.
-... Não sei o que lhe diga.
Diga-me quando é a próxima reunião de condominio...

domingo, julho 30, 2006

Os novos inquilinos do 9 esq!!!

Carolina:
O meu nome é Carolina de Mattos Braga e tenho 25 anos... Sou formada em Direito pela Universidade do Minho, como também é toda a minha família, mas não exerço. Deixei Caminha, a minha cidade natal, para me mudar para Lisboa de forma a poder trabalhar no que mais gosto, ou seja Joalharia. Sem a autorização dos meus pais e contra tudo e todos consegui tirar um curso nesta área que tanto gosto! Sou casada com o Miguel por conveniência de ambas as partes, apesar de não sermos um casal normal. Espero singrar na minha nova carreira e poder começar a viver a minha vida como sempre quis, ou seja, sendo dona de mim mesma e sem ter de seguir o que os meus pais desejam.
Miguel:
Chamo-me Miguel Braga e tenho 27 anos! Sou casado com a Carolina, a única pessoa que sempre me apoiou em todas as minhas decisões e que nunca me tratou de maneira diferente por ser como sou. É sem dúvida a "mulher" da minha vida. Sou formado em Gestão de Empresas, também pela UM (foi na universidade que conheci a minha "idealista") e mudei-me para Lisboa para gerir a empresa de Telecomunicações da família e também para poder apoiar a Carolina no seu novo projecto. Não somos um casal normal, e por isso escolhemos este prédio que me parece recatado e simples. E é disto que precisamos.

quarta-feira, julho 12, 2006

Indicações para os candidatos a novos inquilinos

Faço saber a todos os interessados a participar da vida do prédio que deverão indicar o vosso email para que eu vos possa fazer chegar a chave de acesso ao mesmo.
Para qualquer dúvida poderão entrar em contacto através do email moonlightgirl48@hotmail.com.
Procuramos pessoas que tragam dinamismo ao prédio através da sua criatividade, boa capacidade de escrita e interacção com as restantes personagens - os vizinhos!, ou seja: Margarida, Marisa, Luana, Bruno, Afonso Vilhena, Rita e João.
Ficamos à espera do vosso contacto!

sábado, junho 10, 2006

Adeus

(Porque ninguém me tem visto no prédio)

Os lençois do berço continuam desfeitos, tal e qual como ficaram quando pegeuei nele ao colo naquela manhã, os brinquedos continuam espalhados no chão, mas ele não está lá a morde-los...
A Rita diz-me que tenho que chorá-lo, tenho que ficar com as recordações e viver... Ela chorou, muito tempo, agarrou-se a mim, apertou-me e com o olhar suplicou-me que chorasse com ela, não consegui e não a deixei tocar em nada do que era dele.
Ela esgota a dor, quando entra, no quarto, não mexe em nada, diz ela, mas eu sei que quando a saudade aperta, ela senta-se junto do berço e chora, chora muito, mas sufoca o som, porque não quer que eu ouça.

Hoje dei a mão à Rita e levei-a até à porta do quarto dele, dei um passo e entrei, apanhei os brinquedos e pus dentro do "caixote da tralha" (como eu lhe chamo), a Rita tirou os lençois do berço, dobrou-os e pousou-os na arca, dobramos a roupa e pusemo-la dispostas em cima do colchão despido.
Fui à garagem e trouxe caixotes. Colocamos tudo lá dentro e selamos com cola adesiva.
O quarto ficou nu... a Rita saiu, depois de me ter dado um beijo, fiquei eu e o quarto vazio. Caí no chão, de joelhos e chorei, chorei mais do que alguma vez tinha chorado na vida.
Hoje disse adeus ao meu filho.
Agarrei-me a um dos últimos fatinhos dele, o cheiro dele contiunua lá e eu quero senti-lo para sempre... este vou guarda-lo na minha gaveta...
shiuuu! ... não... pareceu-me ouvi-lo palrrar...

João

terça-feira, maio 23, 2006

Afonso Vilhena

Subi as escadas lentamente, como quem absorve as paredes, o tecto, todos os passos. Cheguei ao meu andar sem ter visto ninguém. Desfiz as malas e sentei-me, contemplativo, junto à janela. Defronte, duas árvores tentam sobreviver na selva urbana, rasgando a calçada e erguendo-se, imponentes. Se fechar os olhos sinto a rugosidade dos ramos, o aroma fresco das folhas. Sempre gostei de sentir o mundo para me sentir a mim próprio. Vim para esta casa definitivamente. Nunca consegui estar muito tempo no mesmo local. Sempre senti o apelo do desconhecido e sempre segui os meus impulsos. Não que isso tenha mudado, mas quero um lugar que envelheça comigo, quero ser amigo daquilo que me rodeia sem estar a partir. Quero reencontrar-me. Escrevi durante toda a minha vida sobre aquilo que devemos ser, sobre o mundo, sobre o que está para além do táctil e do visível. Fui famoso. Os livros de Afonso Vilhena encheram as prateleiras das livrarias e a minha conta do banco. Peguei no dinheiro e construí um centro com um jardim. Centro de conhecimento da vida, do que não se sabe. Do oculto. Agora vou lá falar de vez em quando, na reunião de grupo geral. Tive uma mulher, mas nunca casei. Ela partilhou a minha cama, a mesa, a casa, mas nunca a minha alma. Não compreendia este meu fascínio pela vida. Acabou cedo. Passei a ser amante da natureza e da própria existência enquanto real e enquanto inatingível. Ainda o sou, aos 55 anos. Ainda tenho em mim uma juventude que espero nunca perder.
Abri os olhos. Há muita coisa a fazer para que esta casa se torne o meu lar. Quero colocar naquela parede um espelho, de forma a ter reflectida dentro do quarto a beleza do céu e das árvores. A minha sala precisa de flores, fetos e violetas, para ganhar cor e vida. Desempacotei os livros e comecei a dispô-los na estante da sala. Depois, liguei a aparelhagem e Bach encheu o ar de forma harmoniosa e perfeita.
Só nessa altura me lembrei que me esquecera de comprar cigarros – o meu único vício. Há algum tempo que ando a tentar deixar de fumar, mas acabo sempre por não resistir. Calcei os sapatos e desci as escadas. À porta do prédio estava uma senhora bem-parecida, mais ou menos da minha idade. Cumprimentei-a cordialmente, mas fiquei admirado com a forma como olhou para mim, com um misto de desconfiança e surpresa. Não tenho ar de bandido, mas talvez o meu 1.90 m e o meu cabelo branco apanhado em rabo-de-cavalo a tenha colocado de sobreaviso – afinal de contas sou um estranho para os meus vizinhos e sim, posso parecer um pouco excêntrico.
Fui até ao quiosque mais próximo e comprei um maço de Cohiba. Voltei para casa, acendi um cigarro e deixei a melodia de Bach tomar conta de mim.

quarta-feira, abril 12, 2006

O novo vizinho - Luana

A conversa com a Margarida tinha-me feito perceber que estava a cair num poço de onde me seria muito difícil levantar, mas não impossível. No entanto, eu precisava muito de um incentivo, qualquer coisa que me pudesse ajudar a perceber que também eu mereço ser feliz. Dei por mim a pensar que nunca me tinha sentido verdadeiramente amada...apenas sentia o meu corpo desejado por alguém que eu pensava amar, mas até mesmo o amor pleno era para mim desconhecido, pois nunca existira amor com confiança total, com entrega incondicional, e nunca me sentira respeitada. A minha vida era composta de “nuncas” e “nãos”. Senti-me suja ao conversar com a Margarida e ao contar-lhe algumas das porcarias de que o meu passado é composto. Ao subir para o meu andar imaginei-me criança de novo, quando o mundo dos homens era para mim desconhecido. Tive saudades dos meus pais, do carinho da minha mãe, que eu trocara por uma vida de podridão, e senti as forças faltarem-me. Deixei-me escorregar em frente ao 5º C e fiquei no chão, bem onde eu pertenço. Confesso que tive pena de mim própria e chorei. Foi nessa altura que um rapaz que não conhecia de lado nenhum se aproximou de mim sabe-se lá vindo de onde a oferecer-me ajuda.
A minha primeira reacção foi de raiva. Ele elogiou o meu nome, e eu pensei: “pois, mas Lana é o nome que eu te devia ter dado!”.
- Não, não quero ajuda nenhuma, nem sequer te conheço. Desaparece-me da vista!
- Hey, calma. Não te vou fazer mal... já me apresentei, sou o...
- Para que conste, não me interessa se és novo ou velho no prédio, não me interessa o teu nome e não, não vou aceitar a tua ajuda porque tu não me podes ajudar. Deixa-me!
Ele recuou dois passos e encostou-se à parede. Ficou ali, quieto, calado, a olhar para mim.
- Não tens nada mais interessante para fazer?
- Na verdade não. Gosto de ver uma rapariga a chorar nas escadas, com ar de quem acabou de levar com o Mundo em cima e precisa de alguém que lhe tire esse peso dos ombros, sobretudo quando ela me manda embora. Por isso vou ficar aqui, se não te importas.
- Deves ser completamente doido!
- Sim, completamente. E tu és a pessoa mais normal que conheço, porque choras e dizes que estás bem. Agora que já traçámos os perfis psicológicos um do outro, podemos recomeçar?
- O quê?
- Boa noite, eu sou o Bruno, sou novo cá no prédio. Estou a tentar conhecer os meus vizinhos. E tu és a...?
Comecei-me a rir. Aquele rapaz até estava a ser simpático, e eu estava a ser tão má para ele que me senti envergonhada.
- Ah, ela riu-se! Sinto-me feliz, já fiz alguma coisa de jeito hoje...
- Sou a Luana. Benvindo ao prédio. És sempre assim tão engraçadinho?
- Não. Só quando me sinto desajeitado....
- Pois, também me pareceu... Desculpa o mau feitio...
- Esquece; todos temos dias maus.
- Mudaste-te para cá hoje?
- Sim, pelo menos aqui estou mais perto do trabalho, e gosto desta zona. E tu, moras aqui há muito tempo?
- Alguns meses, só. Bem, espero que te dês bem por aqui. Vou-me embora.
- Já??
- Sim, já. É tarde. Boa noite, Bruno.
- Boa noite... Luana.

sábado, março 11, 2006

O meu Bebé! (3º dto)

"- Olá meu filho!" - custou-me decidir quais as primeiras palavras que lhe diria, fiquei perdida com aqule corpo frágil nos meus braços.
Para o João foi fácil, disse logo: " Eu sou o teu pai!"
A minha criança nasceu. ainda me parece tudo tão irreal! Olhei para os olhos dele e vi a alma que mais amo. Ouvi o choro mais lindo da minha vida e senti uma felicidade arrebatadora.
Não ri o meu filho, o mundo é - lhe estranho. Chora e só acalma quando o aconhego no meu colo ou quando lhe dou de mamar...
Foi lindo ver o João com o nosso filho ao colo. Adorei aquele sorriso aparvalhado de pai babado. A Marisa, olhou para mim e num olhar de cumplicidade feminina concordou comigo: os homens ficam patetas quando são pais.
Eu e o João ficamos longos minutos a olhar para a cara do nosso filho, no fim, lá decidimos o nome que lhe vamos dar: Luís.

Tem dois dias o Luís e já é vedeta. Recebo telefonemas a perguntar por ele, os pais do João já vieram ver o neto... A Luana, veio espreitar... eu estava a dormir, não a recebi... Mas oportunidades não faltarão...
A Marisa tem sido extremamente sensivel e dedicada comigo, está sempre presente, ajudu-me a dar banho ao bebé, eu estava nervosa, tinha medo que ele me escorregasse... O João só dizia: "Cuidado com a cabeça!" e eu ria-me com um nervoso miudinho...

Agora vou aconhegar e ver esta nova vida a crescer... e vou gozar este meu novo papel: sou mãe!

domingo, março 05, 2006

Começar de novo - Bruno

Após uma longa procura, lá encontrei um andar perto do trabalho.
Foi-me dito que esta zona era pacata, sem grandes algazarras e com um bom ambiente por parte das pessoas que aqui vivem. De facto, é uma zona pacata, não se ouve ou vê vivalma. Estou à porta do prédio, olho para cima e percebo agora que se trata de um edifício recentemente renovado. Bato à porta do prédio e a porteira vem abrir.
- Boa tarde, chamo-me Bruno. Aluguei aqui um andar. É o 5º A.
- Boa tarde, como está? Entre que eu indico-lhe o andar.
Peguei nas malas e lá fomos. A porteira parecia-me ser muito simpática. Começou por me contar que tinham terminado de renovar o prédio há pouco tempo e que alguns dos seus inquilinos pretendiam também fazer algumas alterações nos seus respectivos apartamentos.
- Aqui está; 5º A. Esta é a sua chave, alguma coisa é só pedir.
- Muito obrigado, e um resto de uma boa tarde, para si.
Agarrei a chave, abri a porta e entrei.
Eram já seis da tarde e começava a ficar com fome. Apenas tinha comido algo, antes de sair da casa dos meus padrinhos, os quais aproveitei para visitar e dar as boas novas.
- Vou pedir uma Pizza.
Daí a meia hora tocam à porta. Abri.
- Boa tarde, pediram uma Pizza.
- Sim, quanto é?
- São vinte e dois euros e cinquenta cêntimos.
- Aqui tem, obrigado.
Comi, vi um pouco de televisão e depois fui-me deitar. Descansar da viagem.
Mas, a meio da noite enquanto tentava dormir, e dando voltas e mais voltas na cama, ouço alguém a chorar no corredor. Saio da cama, visto-me e vou ver o que se passa; ao abrir a porta de casa vejo uma mulher, muito bem vestida sentada em frente à porta do 5º C.
- Olá, precisa de ajuda?
- Não, eu estou bem.
- Está a chorar, porquê? Não consegue entrar em casa, é isso. Eu ajudo-a.
- Deixa-me em paz, eu já disse que estou bem, será que és surdo?
- Como se chama? Eu sou o Bruno, sou novo aqui no prédio.
- Chamo-me Luana.
- Luana, que lindo nome, tem a certeza que não quer ajuda?

sábado, março 04, 2006

Contracções (3º DTO)

- Estou ansiosa por lhe ver a cara, por lhe tocar os dedos das mãos, para o cheirar e envolver nos meus braços...
- E estás muito nervosa?
- Não, estou ansiosa...! Já estou a ultimar os preparativos para o nascimento. Falei com a Marisa, que é parteira, para me ajudar na altura do nascimento, assim o João fica mais descansado. É preocupado, apesar de ser uma criança grande.
Mas este peso da barriga arrasa-me, andar com o sebastião pela trela é uma aventura, mas ele tem cuidadinho comigo e passa a vida a lamber-me a cara, e quando estamos deitados no chão , lá em casa, poe o focinho em cima da minha barriga e parece escutar algo que eu não escuto... é lindo...!
- E hoje como te sentes?
- Hum... estou ligeiramente indisposta...um mal-estar que não sei explicar muito bem...
- Chama o João!
- ai... vou telefonar á Marisa. Está mais perto...
...

- Tou, Marisa? preciso de si...

quinta-feira, março 02, 2006

Luana

Hoje estou mais triste do que o habitual. A minha casa é um mar de silêncio onde me sinto naufragar, e mesmo as cores de esperança com que a redecorei parecem não surtir qualquer efeito sobre o meu estado de espírito.
O meu vizinho - o meu amigo, Pedro - ausentou-se. Negócios no estrangeiro durante uns meses, ou uma desculpa para se refugiar no seu mundo. É engraçado, o que a vida faz às pessoas, ou o que as pessoas fazem à sua vida. Eu encontrei no Pedro uma pessoa boa, compreensiva, não só um vizinho mas um amigo; não só um amigo mas alguém que eu achei que poderia salvar-me de mim própria, que eu poderia amar. E achei que ele sentia o mesmo em relação a mim. Passeámos juntos pelo parque, jantámos juntos, conversámos sobre tantas coisas que eu achei que podia confiar plenamente nele e que ele em troca me abria o mais profundo da sua alma. Quando ele se foi embora, deixou-me uma nota por debaixo da porta, e eu li-a e reli-a vezes sem conta, até apagar o perfume dele do papel, até pegar esse perfume aos meus lábios.

Luana,
Vou ausentar-me do país em negócios. Estamos a estudar um projecto complicado
e por isso não sei quanto tempo estarei longe de ti.
Escrever-te-ei assim que chegue e, se possível, todos os dias.
Já tenho saudades tuas, de estar contigo, da energia viva que brota de ti.
Odeio despedidas, e por isso não te disse nada pessoalmente.
Terei tempo para avaliar-me a mim próprio, para avaliar os meus sentimentos,
para reflectir. Não me esqueças e por favor não desanimes.
Lembra-te da jornada de alegria de viver que iniciámos juntos. Tem força por ti,
ou senão para ma dares quando eu voltar. Olha para a lua!
Pedro
Passaram 2 meses e nem uma carta, nem um telefonema, nem um email. Nada. Apercebi-me do meu erro ao pensar que conhecia o Pedro ao tentar localizá-lo através da empresa e descobrir que nem o nome eu sabia. Não podia escrever-lhe, mas pensava nele todos os dias, a todas as horas. As saudades apertaram o meu peito até eu já não conseguir conter a angústia; procurei distrair-me com novos projectos, mas o olhar dele estava em cada local, nas páginas dos livros, no meu pensamento, gravado a ferro na minha alma.
Anteontem, fui passear e entrei num café bastante longe de casa, num bairro que não conhecia, de casas luxuosas de aspecto imponente. Pedi um chocolate quente e sentei-me junto à janela. Atrás de mim, duas mulheres elegantemente vestidas falavam e riam, e embora eu não estivesse a tomar atenção à conversa, não pude deixar de as escutar:
- Então e o teu ex-marido, mudou de vida, foi para um prédio simples e apertado... não sabes nada dele?
- Por amor de Deus, Nina, nem me fales. O Pedro veio ter comigo há duas semanas, canalha! Disse que tinha estado no estrangeiro a fazer uma porcaria qualquer e que tinha falhado o projecto. Disse-me que precisava de mim, implorou-me para que eu voltasse, que uma fulaninha qualquer que mora lá naquele cubículo para onde ele fugiu o tinha ensinado que existem segundas oportunidades. Enfim, um rol de mentiras e disparates. Mandei-o pelo mesmo caminho.
- Sim, foi o melhor que fizeste. Não queiras cair na asneira de pensar que ele se modificou e sofreres tudo outra vez. À segunda só cai quem quer.
- E eu ia pensar isso, Nina? Vi-o há três dias... fez-me impressão, coitadinho. Barba por fazer, camisa rota, bêbedo, completamente bêbedo. Expulso de um casino, como um cão. Ficou caído na estrada, e se chovia!. Arrastou-se até à esquina e agarrou-se a uma rameira, mas olha que nem as putas o querem, porque a fulana deu-lhe um estalo e mandou-o embora. E depois...
Não ouvi mais. Saí dali a correr; as lágrimas distorciam-me a visão. Ele mentira-me! Ele tinha falhado e precisava de mim... e eu não o conseguia encontrar. Ele estava perto, num mundo que eu não compreendia, mas perto, e eu amava-o - tive então a certeza de que o amava -, mas ao mesmo tempo senti-me traída - ele fora ter com a ex-mulher; eu fui uma ajuda com a minha "energia de vida", nada mais do que isso.
Nessa noite, vesti-me a rigor e fui para aquela zona. Perguntei por um casino e indicaram-me um, não muito longe dali. Um pouco mais à frente, prostitutas de rua exibiam os seus corpos e tentavam angariar clientes.
Entrei no casino. Procurei com o olhar da alma, desesperada, mas nem sinal do Pedro. Fiquei ali algumas horas, à espera, sempre à espera. A certa altura, vi um outro bêbedo ser expulso e vi nele a miséria em que caíra o meu amigo. E então chorei. De madrugada, saí do casino e olhei as raparigas à borda da estrada. Talvez ele aparecesse. Fiquei ali. A certa altura, um Mercedes CL65 AMG parou ao pé de mim. O vidro lateral abriu-se e um homem bem vestido, de cabeto negro azeviche e olhos penetrantes, olhou para mim.
- Quanto é?
"...implorou-me para que eu voltasse, que uma fulaninha qualquer que mora lá naquele cubículo para onde ele fugiu o tinha ensinado que existem segundas oportunidades...", "...agarrou-se a uma rameira, mas olha que nem as putas o querem..." "eu fui uma ajuda com a minha "energia de vida", nada mais do que isso"
- Então, não tenho a noite toda. Quanto é?
- Quanto achas que eu valho? - perguntei, entrando no carro.
Anteontem imaginei que estava com o Pedro. Ontem fiz o mesmo. Ignorei o homem que respirava para cima de mim com hálito a Baileys e me bateu, e senti a dor com a mesma intensidade com que sentira a necessidade de guardar qualquer contacto físico com o Pedro para quando tivesse a certeza que ele me amava. Hoje vi a marca arroxeada no rosto, junto ao queixo, e chorei de raiva e de ódio, por ele e por mim própria. "Porque não me vieste salvar??"
Saí do elevador devagar, tentando conter as lágrimas. Era o terceiro dia que voltava ao casino e à esquina. O terceiro dia em que iria vender o meu corpo para me lembrar que eu não tenho o direito de amar.
- O que tem, Luana? O que é que aconteceu?
- Margarida... Isto passa. Não é nada.
- Mas está a chorar. Alguém lhe fez mal?
- Sim... fui eu...
A Margarida olhou-me com ar maternal, abraçou-me e levou-me para a sua casa. Indicou-me o banco da cozinha, colocou uma chávena de chá de menta à minha frente e pegou-me na mão.
- Conte-me.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Redecorações - Luana

Estou feliz!!!
O prédio foi redecorado: paredes pintadas de fresco, com cheiro à Primavera que se aproxima e ao Outono que inicia sempre um ciclo de renovação. Eu própria resolvi redecorar também o meu apartamento e torná-lo mais convidativo e alegre, com um toque de vida e outro de alegria de viver.
Espero que este novo look do prédio contribua para que os meus vizinhos apreciem mais o prédio e voltem a enchê-lo de sorrisos, dúvidas e emoções...
Luana

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Alguém me ouve??

Caros vizinhos:
Tenho vindo ao Prédio todos os dias, e infelizmente não vejo posts novos por parte de nenhum de vocês... Ainda não postei porque tenho andado à espera que alguém escreva algo passível de continuação, mas parece que o prédio, salvo raras excepções - como é o caso da Júlia (welcome :P) - está abandonado...
Gostaria de saber quem é que, efectivamente, ainda faz parte do prédio e as vossas sugestões para o melhoramento deste blog (o que é que querem introduzir/eliminar, etc). Por favor deixem os vossos comentários ou se quiserem um contacto mais pessoal enviem email para moonlightgirl48@hotmail.com
Fico à espera das vossas respostas, pois desta forma não sei eu própria se vale a pena continuar ou não no prédio.
Um abraço,
Luana

domingo, janeiro 22, 2006

Sou a Júlia, e cheguei aqui um pouco por acaso…


Mudar de escola a meio do ano, onde é que isto me passaria pela cabeça há poucos dias? Bem, sou professora de Português e mudei-me para a escola mais próxima no inicio desta semana. A minha colega que dava cá aulas está grávida, uma gravidez de risco, portanto tem o direito de pedir destacamento para uma zona mais próxima da sua área de residência… Abençoada… Depois de uma substituição de menos de um mês numa escola da linha de Sintra, e quando já achava que ia passar o resto do ano lectivo a trabalhar num supermercado, surgiu uma substituição… e esta até ao fim do ano.
Só é pena ficar longe de casa, mas um horário completo é um grande presente, e dá até para me permitir alguns luxos, como este de alugar um apartamento só para mim.
É um prédio simpático, este onde vim parar. Havia uma vaga no 4º direito, o dono tinha posto há poucos dias um cartaz de “ARRENDA-SE”, e além de não ser muito caro, tem um ar a seu modo acolhedor.
Por isso é que hoje me mudo de armas e bagagens para o meu cantinho… Cruzei-me com uma senhora na entrada, não sei se era a porteira, mas dei-lhe um bom dia de sorriso rasgado, afinal mereço partilhar a minha alegria.
Ainda está tudo espalhado na sala, por cima dos sofás, na mesa da cozinha. Hoje não há paciência para grandes arrumações, só o computador já está montado na secretária do quarto. Quero ir dar uma volta pelas redondezas, mas antes vou imprimir uns anúncios de explicações: “Professora de Português do Ensino Secundário dá explicações, desde o ensino básico à preparação para Exames Nacionais”, ou coisa do género. Pode ser que, colocados nos sítios certos aqui nas redondezas, me ajudem a juntar uns dinheiros extra…
Ah, é bom ter a vida por minha conta. Vou passear por aí, ver se fico a conhecer a vizinhança!