domingo, junho 29, 2008

NOVIDADES (OU NEM POR ISSO)

- Antes de mais nada quero que saiba que estamos muito contentes com o seu regresso. Seja muito bem-vinda! Queria, então, saber novidades... pois também estive fora durante algum tempo. Acabei o meu curso e continuo ligada a alguns projectos de investigação arqueológica da Universidade mas, como calcula, não dá para viver disso assim resolvi manter o meu lugar de porteira do prédio. Poder continuar a viver aqui também pesou muito nesta minha decisão. A Joana está na escola e não é muito bom para ela andar a saltitar de campo para campo enquanto eu me dedico às minhas escavações. Quando calham em período de férias levo-a comigo de contrário fica com a Marisa - sabe quem é? - a vizinha aqui do lado.
- Claro que sei. Ainda continua a fazer partos em casa das parturientes?
- Poucos, penso eu. Não são muitas as pessoas que, tal como o Dr João e a esposa, correm os riscos de querer que os filhos nasçam em casa. De qualquer modo, a Marisa ficou muito triste com a morte do bebé da Rita e do João...
- Chegaram a saber as causas dessa morte? - Foi muito triste para todos!
- Sim, muito triste. Morte súbita, segundo a autópsia - respondeu Margarida
- Que é feito desse casal?
- A Rita tinha ido para casa dos pais, pois não conseguia superar a morte do filho. O João... acho que está a trabalhar em França (se não estou enganada). O apartamento está vazio mas não para venda. Não sei se algum dia voltarão! Há um vizinho novo, veio sozinho com a gata. Parece-me que veio por indicação do Dr João. Eram colegas de Serviço.
- Muito me conta!- exclamou a Luana- É giro esse tal...como é que se chama, mesmo?
- Mário Ventura e vive aqui por cima, no 1º esq.
- Sim senhora... e mais novidade?
- A minha amiga Marisa parece que não anda lá muito bem com o Afonso Vilhena. Foram juntos para a Baía e, não sei que se passou por lá que ela veio com uma conversa de que se estavam "a dar um tempo". Achei imensa graça a esta expressão!...
- Deve ter sido dos orixás - gracejou a Luana. Aqueles dois foram feitos um para o outro... sou eu que lho digo, Margarida!
- Não sei não... agora só vê o jardim das traseiras. Tem ali uma obra de arte. Aquele pátio que não passava de um pedaço de cimento, onde o cão esticava as pernas e fazia as necessidades está um verdadeiro èden! Mais um pouco de chá?
- Sim, obrigada. Adoro este seu chá de frutos vermelhos. Imagine que até tive sdaudades dele... Voltando às novidades...Tenho de ir ver a tal obra de arte ambiental.
- Sempre a mesma... vai ver que tenho razão. Ah, temos um novo inquilino no 5º esq (e senti-me corar). Chama-se Acácio Martins e é bancário. Vive sózinho com filha.
- Muito bem informada - sorriu a Luana
- Pois... - e fiquei um pouco atrapalhada- a Joana e a Lurdinhas, a filha dele, são muito amigas - e o sorriso saiu-me amarelo.
- E que mais novidades temos por cá? - A Luana deve ter-se apercebido mas fazia de conta que não notava para me deixar mais à vontade.

sexta-feira, junho 27, 2008

Regresso - Luana

Entrei no prédio e olhei em volta. Parecia estar tudo bem agora, já não havia aquele cheiro a queimado e a... à ameaça da morte. Mas também já não havia a decoração em que eu participara e de que gostara tanto. Esta parecia-me mais... despida, mais impessoal.


Pousei as minhas duas malas no hall de entrada e esperei até a D. Margarida aparecer.
- Luana! Então, como estás? Pensava que não irias voltar!
- Mas aqui estou, D. Margarida. Como está tudo por aqui?
E ela contou-me. Contou-me como a vida do prédio se desmoronara, como as pessoas tinham desaparecido. Contou-me também como novos inquilinos tinham chegado e começado a encher de uma nova força este espaço. Deu-me um abraço e eu senti-me em casa.
Renascida. Feliz.
Depois de ter estado tanto tempo fora, pensei que teria medo de voltar e enfrentar alguns fantasmas, mas agora estava mais forte.
Passei muito tempo na Escócia, a desenvolver um trabalho de investigação para a Universidade, e adorara. Não só me embrenhara no trabalho como fizera também alguns amigos, bons amigos, e nunca sentira, durante o tempo em que permaneci ali, a necessidade de me castigar com engates ou com cortes no corpo. Essa parte de mim parecia ter ficado em Portugal, no passado, e eu queria agora viver o presente, só o presente, e tentar gostar da minha vida.
Subi ao meu quarto e desfiz as malas. Depois voltei a descer pelo elevador e bati à porta da D. Margarida, que logo me convidou a entrar e tomar um chá.
- Conte-me - pedi - Quero saber todas as novidades.

sexta-feira, junho 06, 2008

MARGARIDA

O tempo passa sem quase darmos por ele... A joana entrou para a escola e tem-se dado muito bem. Daqui a algum tempo estará de férias. Anda feliz da vida pois, finalmente, encontrou no prédio, uma amiguinha quase da sua idade. Ela e a Lurdinhas dão-se tão bem que parece que se conhecem desde sempre. Passa a vida em casa dela. Quando estão juntas esquecem o tempo pelo que, a maior parte das vezes, tenho de subir até ao 5º esq. Confesso que o faço com prazer... Dou comigo a desejar que a joana esqueça as horas para ter uma desculpa para tocar aquela campaínha...

Margarida