quarta-feira, novembro 16, 2005

Cartas de Luana para Alguém Inconfessado

Procurei-te nas tardes de sonhos reprimidos e insatisfeitos. Vieste, enfim, com cheiro a saudade e sabor a carícias, coroado com a espuma das ondas. Recolhi-me ao teu corpo dourado do sol e escondi-me do mundo. "Protege-me!!"
Abriste os braços e deixaste entrar o sol do entardecer, que penetrou o meu coração e o deixou em lágrimas. "Adeus."
O mar recuou e no teu lugar ficou um rasto de luz. Perdurou no horizonte do inconsciente, ofuscou-se pelas sombras pontiagudas das rochas, gigantescas, sobre mim. Maré salgada, lágrimas de sal - a fusão do universo com a criatura. Voltei algum tempo depois. Quanto? Muito... Voltei e vi o mesmo céu ao fim de tarde, as mesmas ondas coroadas de espuma, a mesma areia quente, sedosa e dourada. E a luz ainda lá estava. "Já não sinto nada..."
Voltei as costas, mas dois braços envolveram-me e apertaram-me e fecharam-se em mim num abraço profundo. "Deixa-me proteger-te..."
Abri os olhos e vi um outro alguém. E os raios de sol não passavam entre nós. A luz envolvia-nos e embalava-nos numa cadência perfeita, e o mar não recuou. E eu deixei-me ficar - não havia sombras!, para onde tinham ido as rochas? - e disse: "Sim."

3 comentários:

Drifter disse...

Lindíssimo texto! Leva-nos a viajar... Gosto disto! :)

Beijos,
MrX

PS: Passem pelo meu novo cantinho --> http://deambulismo.blogspot.com

maresia disse...

Ó [Mar] salgado, quanto do teu sal são lágrimas de...

As [lágrimas] cheias [de sal] não lavam o nosso mal...

[Abri] as asas e voei...

Anónimo disse...

Belíssimo, este texto.