Sentada junto ao peitoril da minha janela,observo o mundo lá fora com uma leve tristeza no olhar.Um rude sentimento de melancolia apodera-se do meu peito,fazendo-me soltar um longo,grave suspiro de desilusão,de trsiteza,um suspiro por todo o ressentimento e mágoa guardados no coração.A verdade é que esta terra,este mundo,não me pertence;ele não é meu,e não reconheço as janelas de vidro nem as portas de carvalho deste prédio que agora habito.Os meus pais(porque é que nas histórias de adolescentes são sempre os pais os culpados de tudo?)convenceram-me a vir para aqui(OK,não me convenceram completamente...)argumentando com todas as razões do mundo:«arranjarás novos amigos,temos mais espaço na casa nova,vais ver que vais gostar do sítio,o bebé vai poder ter um quarto só para ele...».E eu,tola como sou,concordei em segui-los,por razão nenhuma.
Como podem ter percebido pelo parágrafo anterior,a causa desta mudança é a chegada de um novo elemento à nossa família.A minha mãe descobriu que estava grávida à sete meses atrás.A partir daí,tem sido uma confusão sem fim:comprar carrinhos e brinquedos para o rebento que aí vem,resgatar da grande arca de família as nossas(minhas e da minha irmã Liliana)roupas de quando erámos bebés,arranjar o quarto para a criança...Esta é uma rotina que,confesso,não me desagrada totalmente.Ver a mãe a pegar em calças em miniatura e camisolas do tamanho de um punho,peças que antigamente eram minhas ou da Liliana e que fazem parte dos grandes tesouros da família,encostando a roupa ao peito com um leve suspiro,é algo que me enche de ternura e de afecto.Antes,quando vivíamos num pequeno estúdio mesmo no centro de Lisboa,a vida era mais simples e mais colorida,mas também menosdoce e mais severa.
Isto de ter de partilhar brinquedos e afectos e tudo o mais não é propriamente novidade para mim.Tenho uma irmã mais velha,chamada Liliana,que faz dezoito anos em Setembro.Eu e ela somos as maiores amigas,e as maiores inimgas também.Partilhamos o quarto,partilhando também os segredos,os sonhos,as angústias,os medos.É por isso que me sinto extremamente próxima dela,de um modo que por vezes se torna angustiante.É como se eu a sentisse respirar,mesmo quando estamos separadas.Os segredos dela estão sempre presentes em mim e isso é algo impossível de ignorar.Temos idades e feitios diferentes e aquilo que eu considero correcto muitas vezes é visto por ela como o maior crime jamais cometido.Isto leva a que tenhamos as nossas disputas e as nossas discussões.Mas,no final do dia,nunca me deito sem receber dela um abraço de boa noite e sem ter a certeza de que tudo está bem.
A verdade é que,mesmo não sentindo nenhuma espécie de afeição por este prédio,já tive oportunidade de observar alguns dos outros inquilinos.Parecem-me pessoas genuinamente boas e estou certa de que não será difícil conviver com eles.E sinto que passarei neste local alguns dos melhores momentos da minha vida,senão mesmo os melhores de todos.
8 comentários:
mas nao era so para postar de dois em dois dias... estou confusa!
Passei pela primeira vez, não tive tempo para ler tudo...mas gostei do que li. Parabéns a todos!
Jinhos
com a chegada do bébé as coisas tornam-se mais divertidas! :)
Ora vamos lá ver,antes de postar devem ler-se as regras.Já estamos a quebrar regras.Temos de nos organizar~, senão isto acaba numa confusão que ninguém se percebe.
fora isso, benvinda ao prédio
o porteiro
Uma nova moradora cheia de esperança e com um mano a caminho.
Muito bem!
Beijos
Lovely ;)*
hmmm...
Gosto desta ideia... E uma irmã com quase 18 anos... Vamos lá ver o que isto dá... ;)
Beijos,
Mário
Cá para mim bateste com a cabeça nalgum sitio ou andas a ver filmes a mais
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