domingo, maio 22, 2005

O amor de Ernesto Saraiva pelo 6º andar direito

Olá boa noite. Chamo-me Ernesto Saraiva e celebrei recentemente o contrato definitivo de compra e venda do 6º andar direito. Tenho 52 anos. Sou casado há 30 anos. Tenho um filho de 25 anos. Sou director no departamento jurídico de um banco. Ganho bem. Muito bem até. Aos fins de semanas, se não venho para aqui, vou caçar com os meus colegas para o Alentejo. Gosto de sentir a morte nos meus dedos. Não é só um desporto. Exige um gozo pessoal matar pombos e coelhos. Imagino-me nessas alturas a aniquilar algo maior. Tigres. Ursos. Panteras. Onças. E aquilo não é para qualquer um. Tentei levar o meu filho à caça. Ele não gostou. Ele não sabe o que é bom. Suspeito até que não é só ao nível do desporto e da competição que possuímos os mesmos gostos. A culpa é da mãe. Mas o que hei-de fazer agora. Foi ela que o criou. Fui eu que deixei que ele crescesse assim. Também já não o suporto. Mas pronto. A minha mulher não conhece este apartamento. Adquiri-o para as minhas escapadinhas. Gosto de foder em paz. Já estava a ficar farto do carro. Os joelhos sempre esfolados. O suor do sexo entranhado no corpo. Quando chegava a casa receber um beijo da minha mulher casta. Sim. Casta. Nunca quis ter uma foda daquelas que deixa qualquer mulher zonza. Preferia sempre a posição que era a mais confortável e a menos divertida. Dizia ela que não era mulher para fazer essas coisas. Um homem não é de ferro. Este apartamento é o concretizar de um sonho. Um sonho em que homens e mulheres se entrelaçam em bacanais doidos e desprovidos de inibições. Começam sempre com sexo oral. Gosto de ser bem chupadinho. Com força. Com mordidelas constantes. Depois a viagem pelo rêgo do cu. Acabando na vagina. Onde tudo começa para todos nós é onde eu gosto de acabar. Claro que tenho de variar. Conhecer as particularidades de cada mulher excita-me tanto que é isso que me faz continuar. É isso que me levou a cometer esta pequena loucura. Comprar este magnífico apartamento. E como é que ele é por dentro. Por agora não tem muitas coisas. Também acho que não vou acrescentar-lhe muito mais. Tenho um colchão no chão do quarto. Papel higiénico ao lado para prevenir qualquer fluído corporal que se intrometa no espaço exterior relativamente aos nossos orifícios também eles corporais. Tenho na casa de banho umas toalhas. Essas furtadas dignamente de um de entre os vários hoteis em que permaneci. Quer por razões de negócio. Quer por razões de prazer. A cozinha é a divisão mais apetrechada da minha casa prazerosa. Tem um frigorífico. Um microondas. Uma mesa. Bancos. Quatro dessa espécie de mobília. Comida. Muita. E pronto. Se o apartamento não fosse meu e entrasse aqui neste exacto momento diria que seria a cova de um eremita qualquer dos tempos actuais. Mas é o ideal para mim. Agora sim. Sou um homem completo. Tenho duas vidas paralelas. E nada me escapa agora.

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