segunda-feira, julho 04, 2005

Ausência

Viajei.
Tínhamos acabado de nos mudar para o prédio quando me ligaram dum jornal perguntando se era mesmo a jornalista que estavam à procura. Estavam a fazer uma co-produção com um canal televisivo. Queriam artigos sobre a Palestina. Iriam ao ar uma vez por semana. Queriam-me para esse trabalho por saberem que falo árabe e que meu marido é palestiniano. Disse-lhes que lhes responderia mais tarde, mas claro que já sabia que ia aceitar. Há mais de dois anos que o Nassim não via a família. Eles ainda não tinham conhecido o nosso filhote. Era uma óptima oportunidade. Mesmo sendo a Palestina, parte da nossa família está lá. Falei com meu marido. Ele ficou um pouco apreensivo por causa do restaurante que estava abrir aqui, motivo pelo qual saímos de Londres. Mas as saudades eram tantas, que não demorou a decidir ir comigo também.
Deixámos o prédio, a nossa nova casa, e fomos.
A viagem para a aldeia do Nassim é cansativa. Comprámos um bilhete de avião até Aman, na Jordânia, e o restante caminho teve que ser feito de carro. Passámos a fronteira para Israel,sempre muito bem controlada. O muro, aquele maldito muro. Aflige-me só de vê-lo. Ainda bem que o Francisco estava a dormir, não queria que ele visse esta cena. É pequeno demais o meu filhote. Um muro gigante que separa os restos de Palestina do resto do mundo. Estão cercados ali. Se alguém quer entrar, tem que pedir autorização à grande Israel. Somos obrigados a passar pelos soldados. Somos obrigados a deixá-los fiscalizar tudo. É frustrante. Passamos a fronteira. Levámos mais umas horas a chegar à aldeia. Aquele muro aumenta a distância de tudo.
Por fim, chegámos. A família do Nassim é muito hospitaleira, sempre que lá fui receberam-me muito bem. Quiseram abraçar o pequeno, que só conheciam em fotos.
Foi um mês muito bem passado, apesar de tudo. E o meu trabalho correu muito bem. Gostaram tanto, que agora trabalho como jornalista do canal de televião.
Regressámos a casa e aí soubemos da morte do porteiro. Fiquei triste por saber da sua morte, mesmo não o conhecendo bem. Tinhamo-nos cruzado pouco, mas achara-o simpático. Agora é uma porteira, Margarida, se não me engano. Pareceu-me igualmente simpática.
O Nassim foi ao restaurante ver como estavam as coisas. Eu fico a preparar o jantar.
Foi bom ver a família, mas é bom regressar.

1 comentário:

Drifter disse...

:) Bem vinda de volta!